Thursday, March 23, 2006

Um cadáver

A miséria existe nesse país como massa de manobra política, como forma de enriquecimento de bispos e pastores de seitas religiosas, como tema recorrente de campanhas de colunáveis, como uma lembrança em certos momentos da vida das pessoas, como um cadáver no meio da sala que todos pulam por cima e fingindo não ver.

Ela já está lá há muito tempo. Como um bom cadáver que é, ela não protesta, não reclama, não fala, não se move, representa com perfeição o seu papel de cadáver, "fazendo" as únicas coisas que lhe são possíveis: atrapalhar os circunstantes e espalhar o seu mau cheiro no ambiente. Ambas atitudes de morto, impotentes, todos já se habituaram a pular, já se acostumaram com a inhaca.

O que mais será preciso fazer para que todos percebam a sua existência, para que resolvam parar de utilizá-los como massa de manobra e tomem alguma medida efetiva? Quem acredita que 15 reais mensais por pessoa é a solução desse problema? Alguém acredita nisso? Qual a efetividade dessa medida? Isso cheira a um apaziguar de consciências com uma esmola miserável. Aliás, quem disse que dar esmolas é a solução?

Fome zero? Zero. Juros rendendo bilhões ao sistema financeiro - Leia-se, 10.000 mil pessoas que ficam com tudo o que é pago de juros por um Estado que abriga milhões de miseráveis, nesse esquema vergonhoso de extorsão a que estamos submetidos. É esse o país do futuro? Qual futuro? O do pretérito?

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